segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Suprema vaidade: A transmissão ao vivo de um julgamento influi, sim, no seu resultado

Dias atrás, o deputado André Vargas (PT-PR) ousou proclamar uma daquelas verdades inconvenientes. Disse que a transmissão ao vivo de um julgamento como o do mensalão traz um “risco para a democracia” e o mundo desabou. Vargas foi taxado de totalitário e liberticida, mas o fato concreto é que tinha 100% de razão. Diante de uma câmera de televisão, o ser humano se transforma. E os ministros do Supremo Tribunal Federal – compostos de carne, osso e vaidade – não são diferentes do comum dos mortais.
O teorema de André Vargas foi demonstrado no último bate-boca entre Joaquim Bar bosa e Ricardo Lewandowski, quando o relator insinuou que o revisor competia com ele pelo tempo de exposição na “novela” – como se, nessa trama, só houvesse espaço para um protagonista. Barbosa foi ainda mais explícito ao sugerir que Lewandowski deveria distribuir seu voto para “prestar contas à sociedade”. Por essa lógica, a competência de um ministro do STF não deveria mais ser medida pelo saber jurídico ou pelo rigor de seus votos, mas, sim, pela quantidade de aplausos do público no Bar Bracarense.
Como se sabe, juiz de verdade é aquele que não se curva à opinião pública nem à opinião publicada. Um bom magistrado presta contas à sociedade quando toma decisões ancoradas apenas na lei e na sua consciência – e não nos índices de ibop e ou nas supostas expectativas da sociedade. Fosse diferente, bastaria substituir o STF por um serviço de 0800. Algo como um “você decide” sobre quem vai ou não para a cadeia. E é inegável que a transmissão ao vivo de um julgamento influi no seu resultado.
Em meio ao festival de vaidades, Barbosa deu também demonstrações de total descontrole emocional. Num dos piores momentos da história do STF, disse um “faça-o corretamente”, quando Lewandowski afirmou que concluiria seu voto. Agiu como se fosse juiz não apenas dos réus, mas também dos próprios colegas, no que foi imediatamente repreendido por Marco Aurélio Mello.
Barbosa, no entanto, não é o único a se deixar levar pela vaidade. Outros ministros têm antecipado seus votos a órgãos de imprensa e também testado a acolhida popular a alguns balões de ensaio, como o eventual perdão judicial ao ex-deputado Roberto Jefferson. Comportam-se como diretores de novela que testam diferentes finais para os vilões e mocinhos da trama. E, no fim, darão ao público o que o público supostamente espera.
Nesse enredo, a preocupação dos ministros já não parece ser a de fazer justiça ou não aos réus. Quando um julgamento se transforma em espetáculo midiático, a motivação dos juízes passa a ser uma só: a própria imagem. Resumindo, qual será a qu antidade de aplausos que cada um deles receberá no Bracarense.

Da Coluna de LEONARDO ATTUCH; Revista Isto É.