terça-feira, 22 de março de 2016

Dia da Síndrome de Down: Kalina, Manu e Felipe são a marca da Assembleia Legislativa

A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte tem bons motivos para lembrar, neste dia 21 de março, o Dia Internacional da Síndrome de Down. A data é comemorada desde 2006 e sua importância está no fato de reconhecer que o indivíduo com Síndrome de Down merece respeito, garantia de direitos e oportunidades de inclusão social.

E foi com base nisso que a Assembleia, de forma pioneira no Brasil, contratou, através de um convênio com a Associação Síndrome de Down do Rio Grande do Norte e a Associação de Pais e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade (APABB), três funcionários com a síndrome.

Desde 2011, Manuela Nely de Lima Araújo, Kalina Santos Focão e Felipe Medeiros Ramos, compõem o quadro de funcionários da Casa. Lotados no Cerimonial, desempenham funções no setor e no plenário.

No Cerimonial, Kalina, de 27 anos, e Felipe, de 28, trabalham organizando os convites que são emitidos para eventos como sessões solenes e audiências públicas. Já Manuela, Manu como é tratada com carinho pelos deputados, é assistente de plenário.

Até o começo deste ano, Manu era responsável pela lista com registro dos deputados presentes às sessões, porém, com a instalação do painel eletrônico, teve que mudar de função e hoje é responsável por colher assinaturas de deputados para projetos e processos que passam pelo plenário.

Os três funcionários se destacam em todos os setores da Assembleia pela facilidade de relacionamento. Por onde passam são cumprimentados por todos a quem conquistaram nesses cinco anos de muito trabalho. Manu, Kalina e Felipe acordam cedo e chegam cedo à Assembleia onde cumprem expediente até às 13 horas.

Kalina e Manu dividem um motorista contratado para levá-las ao trabalho. Felipe pega carona de manhã cedo com um primo, e volta para casa com a mãe, Francisca Medeiros, que vai buscá-lo todos os dias.

Há poucos meses a vida de Felipe mudou. Ele perdeu o pai, vítima de um AVC. “Eu perdi minha voz e fiquei sem trabalhar, depois eu retornei”, revelou o jovem que tem na família unida, o porto seguro.

“Se eu definir Felipe do jeito que eu acho, é amor demais. Ele não me dá trabalho, é compreensivo, inteligente e eu sou muito coruja”, diz Francisca, reafirmando a dificuldade que a família vem enfrentando com a morte repentina de Edson, ex-funcionário do Ibama.

Mãe e filho dividem alegrias e tristezas com Thiago, irmão mais velho de Felipe que trabalha em um navio de cruzeiros e vive longe de casa. Há poucos dias, vindo da Argentina e seguindo para a Europa, Thiago fez uma parada de duas horas em Recife, tempo suficiente para Felipe e a mãe irem abraçá-lo. Em seu smartphone, o funcionário da Assembleia exibe fotos e mensagens que o irmão manda quase que diariamente, dando conta de suas viagens pelo mundo.

Discreto, o filho de Francisca é hoje um vencedor, na visão da mãe que nunca mediu esforços para buscar a igualdade que jamais imaginou encontrar para o filho.

“Quando ele nasceu não existia essa abertura de hoje; imagine 29 anos atrás, sem conhecimento nenhum, ele parecia alguém totalmente inútil, sem progresso. Uma pessoa para ser isolada”, lembra a mãe, explicando que a família nunca parou diante da dificuldade. “Naquela época levei muitos ‘nãos’ nas escolas. Eu matriculava o outro filho e quando eles viam Felipe, perguntavam: ‘é esse? Nós não recebemos’. Hoje com a inclusão, Felipe tem trabalho, e um trabalho que eu nem almejei”, diz a mãe emocionada.

Apesar de ter parado de estudar, Felipe sonha em ser dentista. Nas horas vagas gosta de jogos no computados e prefere não falar sobre namoro. “Já tive uma e não tenho mais”, foi só o que disse.

Mais expansiva, Kalina gosta de sair, de ir para a fazenda da família, e tem um namorado: Tiago. “Já faz oito anos. Ele é muito quieto e não tem Down. E eu tenho minha sogra e meu sogro”, diz Kalina que costuma combinar os programas sociais com os pais, Focão e Ana Lígia, e com o irmão Marquinhos e a namorada dele, Lilita. “Gosto de sair com meu irmão e os amigos dele que são gente boa demais”, diz Kalina que define seu trabalho no Cerimonial da Assembleia Legislativa com palavras como amor, harmonia e alegria.

É exatamente assim que a chefe do Cerimonial, Gevaneide Pereira, define os três, com quem convive diariamente. “Eles vieram engrandecer o setor e trazer companheirismo. É uma turma muito unida e com eles a gente aprende a conviver com limitações. Eles desenvolvem toda e qualquer tarefa com alegria e bom humor; são muito amorosos e nos trazem sempre doses de otimismo e alegria”.

Alegria é a palavra que define Manuela Nely, de 31 anos. Manu lembra que estudou em escolas particulares e regulares durante boa parte de sua vida, mas foi só no Magistério, na Escola Berilo Wanderley, que conheceu o preconceito. “Sofri muito preconceito em sala de aula e até hoje não sei como lidar com Matemática, Química e Física. Tinha uma professora que dizia que eu não tinha capacidade de aprender, de passar de ano. Graças a Deus venci, porque eu cheguei ao ponto de desistir do Magistério”, desabafa Manu, que divide suas alegrias e conquistas com a psicopedagoga Janira Bezerra de Brito, que durante anos lhe acompanhou.

Natural de Santa Cruz, Manu é filha única do casal Gorete e José de Anchieta, com quem viaja nas férias e com quem divide, inclusive, as atividades da casa. Quando não está trabalhando, Manu gosta de assistir à novela ‘Cúmplices de um Desejo’, no SBT, e se diverte nas redes sociais. “Minha vida é uma rede social”. Sobre namorados, diz que o assunto é “pessoal” e prefere não misturar os assuntos quando dá entrevistas.


Assembleia Legislativa do RN
Assessoria de Comunicação