Brasil e México têm diante de si a oportunidade de firmar uma aliança estratégica capaz de impulsionar integração produtiva, desenvolvimento sustentável e resiliência econômica. Em um cenário global instável – agravado pelo tarifaço dos EUA, que atingiu diretamente as exportações brasileiras – aproximar as duas maiores economias da América Latina pode ser diferencial competitivo e instrumento de maior protagonismo internacional.
Juntos, respondem por mais da metade do PIB e da população da região, além de dois terços do comércio exterior e dos fluxos de investimentos. São economias dinâmicas, com estruturas industriais complementares e potencial para moldar uma agenda moderna e inovadora, criando oportunidades para empresas, trabalhadores e sociedade.
Apesar disso, a relação bilateral está aquém do esperado. Os acordos atuais cobrem apenas 15,9% do universo tarifário, deixando 70% das trocas sem acesso preferencial. Barreiras e falta de convergência regulatória inibem negócios e reduzem sinergias.
O efeito é concreto: em 2024, cada R$ 1 bilhão exportado pelo Brasil ao México gerou 26 mil empregos e R$ 500 milhões em massa salarial. Também no México, a pauta industrial gera ganhos expressivos, reforçando a interdependência produtiva.
Na área de investimentos, outro aspecto essencial é a atualização do Acordo para Evitar a Dupla Tributação (ADT), assinado em 2003 e em vigor desde 2006, de modo a alinhá-lo ao atual modelo da OCDE, amplamente usado pelo México em seus tratados. Essa revisão poderia seguir a linha do ADT que o México mantém com os Estados Unidos – acordo que, por sinal, o Brasil ainda não possui com os EUA. A modernização desse instrumento é vital para consolidar uma relação de longo prazo, estimular investimentos, fomentar exportações e facilitar a transferência de tecnologia
A disposição política e empresarial existe. Governos, CNI, Comce e o Conselho Empresarial Brasil-México (Cebramex) atuam para avançar. Na semana passada, a missão empresarial liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin ao México deu mais um passo decisivo nessa direção.
O futuro das duas maiores economias latino-americanas depende do fortalecimento dessa parceria. A hora de agir é agora.
Fonte: O Estadão